Paz: a que habita em mim é realmente a que desejo?

Daniela Minello

Penso que carrego comigo uma paz silenciosa, mas, às vezes, me questiono se minha paz não deveria me barulhar. Será que me acomodei no conforto de não enfrentar? Será que meu silêncio é virtude ou medo?


A paz que sinto é suave como o vento da manhã, mas também se parece com uma música que rui meus silêncios.


Talvez eu não queira apenas ausência de guerra. Talvez eu queira a presença viva de um amor que bagunça, de uma justiça que incomoda, de um riso que acorda minhas noites dormidas cedo.


E então percebo: paz não é sempre quietude. Às vezes, é o som firme de quem ousa dizer: “Aqui, ninguém será ferido. Será amado.”


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Para se ter paz, é preciso voltar para si, respeitando os outros

Voltar para si não é entrar e ficar num casulo. É aceitar o processo e virar borboleta.

 
É compreender que o território do outro também é sagrado, e que minha liberdade só floresce quando não se arrancam as asas do outro. Há quem confunda paz com solidão voluntária, mas a paz verdadeira conversa, compartilha respirações, reconhece o espaço que não lhe pertence.


Retornar à casa é revisitar meus desertos e jardins; é ouvir as vozes internas sem abafar a sinfonia do mundo.
Porque quem volta para si apenas para se fechar não encontra paz — torna-se prisioneiro.


Respeitar o outro é reconhecer que somos espelhos, e que a minha paz, se for sincera, também deve fazer morada em quem me cerca.


Não posso modificar as pessoas

É tentador querer consertar o mundo a cada instante, como se cada alma fosse um conteúdo em recuperação.


Mas a vida me ensina, com paciência e entremeios, que não sou detentor do tempo.


A transformação do outro é um jardim no qual não mantenho o controle, e invadi-lo é arrancar flores antes de brotar.


O que posso é regar minhas próprias sementes, podar meus excessos, abrir espaço para que o outro queira habitar em mim.


A mudança que começa em mim é como terra fértil — se eu cuidar, ela germinará bons frutos.


E se o mundo não mudar, ainda assim, eu terei mudado o suficiente para habitá-lo em paz.


A paz não é um marco de chegada; é um caminho que pode ser percebido, sentido e vivido enquanto existirmos.


Ela não se impõe como um farol a guiar, mas se revela aos poucos — como o amanhecer que nos convida a acordar.


No percurso, tropeçamos nas nossas próprias barreiras, e é nelas que entendemos o valor do existir. A paz não ofusca a noite, mas convida as estrelas a brilharem. Cada passo dado com consciência é uma luz acesa, e, quando olhamos para trás, vemos que o caminho brilhou — não porque alguém nos iluminou, mas porque aprendemos a carregar a luz dentro de nós, mantendo-a acesa.


Vivendo a paz 

Quando escrevo, cada palavra é um suspiro que acalma meu peito — a isso chamo paz... Quando escuto, e o mundo me devolve respostas que não estão nos livros, ouço a paz dos outros a me ensinar... Quando oro, parece que o peso do medo se dissolve como sal na água... Quando medito, mergulho em um mar com ondas dançantes, onde o silêncio cadencia os movimentos... Quando danço, o corpo produz a canção da liberdade... Quando cuido do corpo, da pele, do fôlego, das lágrimas, dos sorrisos — reconheço a mim como ser amado... Quando, na terra suave da fé, semeio meus passos, busco regar a esperança, aliviando o cansaço.


Ter caráter é florescer ao sol do dia, em constante transformação — brisa que guia outrora e a si.


Respeito é a ponte que sela o caminho, abraça o próximo, aquece o que estava frio.


A paz não é fruto da sorte — é o semear da paciência que, com labor e zelo, encontra, nas intempéries, bons motivos para sempre recomeçar e acreditar no que ainda não se vê, mas que se sente com o coração.


Paz é crer na vida, sentindo cada detalhe como um suspiro de esperança.

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